Na busca por compreender mecanismos ou preditores biológicos para suscetibilidade ao novo coronavírus 2019, pesquisadores buscam avaliar características clínicas, comorbidades e suas possíveis associações com o prognóstico desta doença.
Sabe-se que o COVID-19 é causado pelo coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), que infecta as células humanas pela ligação com a enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE2) com seu receptor (Yan et al., 2020). Existe elevada expressão de ACE2 no íleo e cólon, e em 60% de pacientes graves infectados com COVID-19 podem ocorrer sintomas gastrintestinais (diarreia, náusea e vômito). Fortes evidências apontam a influência da microbiota intestinal (MI) sobre o sistema imunológico e expressão de citocinas inflamatórias. Neste sentido, recente estudo chinês buscou verificar o potencial papel da MI na suscetibilidade de indivíduos saudáveis ao COVID-19.
Para a pesquisa, o grupo explorou a relação entre MI, escore de risco proteômico (ERP) e expressão de citocinas pro-inflamatórias em uma coorte de 301 participantes, através da análise de sequenciamento da microbiota intestinal (16s rRNA) e avaliação metabolômica sanguínea e fecal.
Foram identificadas 20 principais unidades taxonômicas operacionais (OTUs) preditivas para COVID-19, atribuídas principalmente aos gêneros Bacteroides, Streptococcus e Lactobacillus, famílias Ruminococcaceae e Lachnospiraceae e ordem Clostridiales.
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No estudo, diferenças na composição da MI se associaram a estado inflamatório anormal, o que poderia explicar maior suscetibilidade e gravidade do COVID-19 com os gêneros Ruminococcus, Blautia e Lactobacillus. Por outro lado os gêneros Bacteroides, Streptococcus e Clostridiales foram negativamente correlacionados com a maioria das citocinas inflamatórias testadas.
Em adição com a avaliação da MI, a análise da metabolômica fecal apontou que alterações na MI se acompanharam de alterações em vias relacionada aos aminoácidos, com conhecido papel de imunorregulação, destacando outro possível elo entre microbiota, inflamação e a susceptibilidade ao COVID-19.
Os autores concluem que MI alterada poderia ser fator preditivo de risco para infecção por COVID 19. Como terapia ainda não explorada, a modulação intervencionista sobre a MI poderia servir, potencialmente, para prevenção e tratamento da infecção por SARS-CoV-2.
Esta modulação personalizada poderia acontecer a partir do sequenciamento genético da microbiota intestinal que, ao identificar o perfil bacteriológico da MI, pode contribuir para condutas de maior precisão.
Referência: Gou W, Fu Y, Yue L, et al. Gut microbiota may underlie the predisposition of healthy individuals to COVID-19. MedRxiv. 2020.04.22.20076091; doi: https://doi.org/10.1101/2020.04.22.2007609
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