Outubro Rosa nos lembra a importância da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. Bioma4me se solidariza com a campanha ao informar sobre a relação entre câncer de mama e as bactérias que habitam nosso organismo, principalmente aquelas do trato gastrointestinal (TGI).
O TGI humano, nosso segundo genoma, é colonizado por comunidades microbianas complexas que contém trilhões de bactérias, arqueias, vírus ao lado de fungos e leveduras, que possuem aproximadamente 100 vezes mais genes do que o próprio genoma humano.
A abundância e diversidade da microbiota intestinal (MI) se modificam de acordo com idade, raça, dieta, higiene, genética do hospedeiro, utilização de antibióticos e outros medicamentos. O ecossistema da MI funciona como um “órgão multidimensional”, envolvido na absorção de nutrientes, biossíntese de aminoácidos e vitaminas e inativação de carcinógenos. Adiciona-se o desenvolvimento e manutenção da imunidade inata e mediada por células. Sendo assim, a MI é partícipe essencial em condições de saúde e doença, no intestino e sistemicamente por meio de ação direta e indireta de bactérias e seus metabólitos.
A MI tem sido relacionada com diversos tipos de câncer (CA), incluindo o CA de mama. Ao lado dos fatores de risco tradicionais para o CA de mama como estilo de vida, a carga endógena do estrogênio circulante livre é considerada elevado fator de risco para a tumorigênese da mama, particularmente em mulheres em pós-menopausa.
Os estrogênios circulantes sofrem desconjugação no fígado por meio de enzimas como a UDP glucuronosil transferase. Uma vez no intestino, os estrogênios desconjugados são destinados à excreção.
Aí entra o “estroboloma”.
O estroboloma inclui a coleção de bactérias da MI e seus metabólitos envolvidos na reabsorção e metabolismo deste estrogênio. Ocorre que algumas espécies da MI são capazes de produzir a enzima β-glucuronidase (BGUS).
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Em condições fisiológicas, um estroboloma saudável permite a conjugação ideal do estrogênio nos hepatócitos, e a manutenção de níveis adequados de estrogênio no corpo. No entanto, alteração no estroboloma resulta na secreção de níveis mais elevados de BGUS e consequentemente maior remoção da porção glucurônica dos estrogênios conjugados. Estes são reabsorvidos pela circulação entero – hepática.
De fato, a atividade da enzima BGUS microbiana tem ação importante no controle da dinâmica do estroboloma ao influenciar os níveis de estrogênio circulante.
Pesquisadores da área investigaram o papel da diversidade e composição da MI na regulação dos estrogênios urinários e metabólitos de estrogênio em mulheres saudáveis. Os autores encontraram correlação direta entre aumento de metabólitos do estrogênio e táxons bacterianos como Clostridiales e Ruminococcaceae.
Além disso, foi observado no câncer de mama em mulheres na pós-menopausa, alterações da MI relacionadas a um nível mais alto de estrogênio circulante. As espécies microbianas mais envolvidas no metabolismo do estrogênio, neste caso, foram as do filo Proteobacteria, como Escherichia coli, Enterobacter, Citrobacter e Klebsiella.
Por fim, os autores também observam que na vigência de fatores agressores externos como estresse, dieta rica em carnes gordurosas (principalmente carne vermelha), e medicamentos, as bactérias produtoras de β-glucuronidase tendem a se elevar, o que poderia aumentar a biodisponibilidade do estrogênio e, a seguir, a maior susceptibilidade para o desenvolvimento de câncer de mama.
Atribui-se grande importância ao microbioma intestinal no metabolismo do estrogênio, e consequente risco de desenvolvimento de câncer de mama, particularmente em mulheres na pós-menopausa. Dessa forma, conhecer a composição microbiana intestinal pode ser de importante valia como parte dos cuidados para prevenção do câncer de mama.
Referências:
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