O que é microbiota intestinal e qual a sua importância para a saúde?
Entendemos por Microbiota Intestinal a grande população de microrganismos, como bactérias, fungos, protozoários e vírus, que colonizam o trato gastrointestinal e que aumentam em quantidade crescente desde o estômago até o intestino grosso.
Quando a microbiota intestinal está adequada, saudável e equilibrada, ela entrega diversos benefícios que contribuem para melhor saúde, como metabolismo de nutrientes da dieta, fermentação de fibras, biossíntese de metabólitos como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), produção de vitaminas, secreção de compostos antimicrobianos, regulação imunológica e manutenção da barreira epitelial intestinal, o que auxilia na proteção contra a colonização de microrganismos patógenos (1).
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Existe alguma relação entre microbiota intestinal com câncer?
A microbiota intestinal é composta por microrganismos “bons” (comensais e simbióticos) e “maus”(patogênicos), que interagem continuamente com a barreira intestinal e o tecido linfoide da mucosa intestinal. Esta interação pode contribuir para criar um microambiente tumoral no qual as células cancerígenas podem prosperar ou morrer.
Situações de desequilíbrio da composição da microbiota intestinal, conhecidas por disbiose, podem favorecer a carcinogênese (ou seja, surgimento do câncer) por induzir inflamação, promover o crescimento e proliferação celular, enfraquecer a vigilância imunológica, e alterar funções bioquímicas do indivíduo.
Mas, nem sempre a microbiota favorece a carcinogênese. Existem vários mecanismos pelos quais a microbiota intestinal pode auxiliar na luta contra o câncer. Esses mecanismos incluem o uso de mimetismo antigênico, biotransformação de agentes quimioterápicos e outros mecanismos para aumentar as respostas imunes anticâncer e melhorar a eficácia de tratamentos (2).
Como a microbiota intestinal se associa ao estado nutricional e tratamento do paciente oncológico?
No tratamento do paciente oncológico, a composição da microbiota intestinal tem importância por sua capacidade de modular, local e sistemicamente, o sistema imunológico do hospedeiro. Nos pacientes sob tratamento com imunoterapia, existem evidências que a microbiota intestinal pode modificar a eficiência deste tipo de tratamento, particularmente junto aos inibidores de checkpoint imunológico. Assim, existem certos tipos de microbiota intestinal associado com a maior resposta ao tratamento oncológico, maior sobrevida livre de progressão e sobrevida global (3).
Pessoas com câncer podem sofrer de desnutrição, perda de força e massa muscular (sarcopenia) ou ambos (caquexia). A microbiota intestinal também impacta o tratamento do paciente ao se correlacionar com o estado nutricional, em especial com a sarcopenia (perda de massa e força muscular) e caquexia no câncer. Pacientes com desequilíbrios da microbiota intestinal apresentam aumento da permeabilidade intestinal, translocação de compostos microbianos pró-inflamatórios e processos relacionados à atrofia muscular, que agravam a perda de massa muscular e limitam as opções terapêuticas por conta do aumento de efeitos colaterais (4).
Existe alguma relação entre microbiota intestinal com câncer?
Como visto, a microbiota intestinal tem importância no tratamento do câncer, em relação ao estado nutricional do paciente oncológico e à resposta ao tratamento, em especial na imunoterapia (3).
Ainda existem alguns desafios que precisam ser abordados neste cenário: Ainda não está claro qual composição específica da microbiota intestinal é a mais propícia para obtermos a melhor resposta imune antitumoral e qual seria a melhor estratégia de modular a microbiota intestinal a (uso de prebióticos, probióticos, simbióticos e transplante de microbiota fecal). Assim aguardamos novos estudos para comprovar eficácia destas opções de tratamentos.
Os novos estudos devem envolver amostragem longitudinal da microbiota com maior número de pacientes, e considerar os possíveis fatores de confusão (por exemplo, IMC, dieta, ambiente e estilo de vida, antibióticos) no entorno do paciente oncológico.
Neste cenário, o que é consenso é: novas abordagens de tratamento e modulação intestinal da microbiota são urgentemente necessárias, de modo a melhorar o estado nutricional, a resposta terapêutica e a qualidade de vida dos pacientes.
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