A relação entre microbiota intestinal e saúde mental tem sido muito discutida nos últimos anos. Em estudo publicado no periódico Nature Microbiology, os autores analisaram a microbiota fecal de mais de 1.000 indivíduos inscritos no Flemish Gut Flora Project da Bélgica por meio do Sequenciamento Genético de Microbiota Intestinal 16S rRNA. A equipe identificou diferentes composições da microbiota intestinal (MI) e correlacionou os achados com qualidade de vida e incidência de depressão nos participantes, usando diagnósticos auto-relatados e fornecidos por médicos. Os achados iniciais foram validados em uma coorte independente com 1.063 indivíduos do projeto LifeLines DEEP da Holanda. E por fim, extraíram os dados para gerar um catálogo descrevendo a capacidade da microbiota de produzir ou degradar moléculas que podem interagir com o sistema nervoso humano.
Os pesquisadores descobriram que a bactéria Faecalibacterium produtora de butirato e as bactérias Coprococcus foram associadas a maiores indicadores de qualidade de vida. Observaram níveis significativamente reduzidos de Dialister e Coprococcus spp em indivíduos com depressão. Além disso, em termos de comunidades microbianas, na coorte estudada, indivíduos que apresentaram menor índice de qualidade de vida e maior prevalência de depressão foram classificados como enterotipo 2 – Bacteroides.
Por fim, verificou-se correlação positiva entre a qualidade de vida e a capacidade potencial da MI em sintetizar um produto de degradação do neurotransmissor dopamina, chamado ácido 3,4-diidroxifenilacético. A microbiota intestinal pode produzir ou estimular a produção de neurotransmissores e compostos neuroativos, como serotonina, GABA e dopamina, e que esses compostos podem modular o crescimento bacteriano. O desafio agora é descobrir se, e como, essas moléculas derivadas de micro-organismos podem interagir com o sistema nervoso central humano e se isso altera o comportamento de uma pessoa ou o risco de doença.
As abordagens utilizadas no estudo não permitem testar causalidade das interações entre o eixo intestino-cérebro; no entanto, os resultados deste estudo fornecem evidências em escala populacional para as possíveis ligações do microbioma à saúde mental. Torna-se de interesse pesquisar a composição da microbiota intestinal por meio de sequenciamento genético em indivíduos portadores de depressão.
M. Valles-Colomer e outros. Nature Microbiol. https://doi.org/10.1038/s41564-018-0337-x; 2019.
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