Doença renal crônica e microbiota intestinal

Doença renal crônica e microbiota intestinal

O papel da microbiota intestinal e suas implicações para a saúde e doença evoluíram rapidamente na última década, com estudos sugerindo que a microbiota intestinal (MI) tem um papel essencial na modulação do risco de várias doenças crônicas, incluindo a doença renal.

Associado a este cenário, a dieta pode conferir benefícios à saúde, promovendo modulações na composição da microbiota intestinal, e isto é de particular relevância para a doença renal crônica (DRC), pois o intestino é uma fonte de solutos de retenção urêmica, que se acumulam em decorrência da função renal prejudicada e podem exercer efeitos nefrotóxicos no organismo.

A presença de disbiose intestinal pode aumentar a produção de metabólitos tóxicos derivados de bactérias, levando a enfraquecimento da barreira epitelial intestinal, podendo acelerar o processo de lesão renal. Dessa maneira, a modulação da MI, através do uso de prebióticos, probióticos e simbióticos na DRC, a fim de melhorar a composição da MI, é de grande interesse na prática clínica.

Estudos atuais sugerem hipóteses mecanicistas para o envolvimento da MI na doença renal crônica. Por exemplo, acredita-se que a exposição das bactérias intestinais a maiores concentrações de ureia resulta na conversão de ureia em amônia via urease bacteriana.


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Atualmente, as toxinas urêmicas derivadas do intestino mais conhecidas incluem sulfato de indoxil, sulfato de p- cresil, e TMAO; estes são associados a doenças cardiovasculares, mortalidade na DRC e outras toxicidade de órgãos-alvo.

Sulfato de indoxil e p-cresil são produzidos pelo metabolismo da dieta do triptofano através da triptofanase de bactérias intestinais, como Escherichia coli; após absorção intestinal, o indol é sulfatado para indoxil sulfato no fígado. O sulfato de indoxil é normalmente é excretado na urina pela secreção tubular proximal, entretanto em pacientes com DRC há um acúmulo destas toxinas já que estas não podem ser eficientemente excretadas por hemodiálise convencional devido à sua alta afinidade de ligação à albumina.

Além da produção de metabolitos derivado da microbiota ser diferenciada na DRC, a composição da MI se diferencia na quantidade de bactérias aeróbicas. Pacientes com doença renal crônica apresentam aumento expressivo de enterococos e enterobactérias, bactérias com características pró-inflamatórias.

A disbiose na DRC ocorre tanto quantitativa quanto qualitativamente, pacientes com doença renal podem apresentar redução da diversidade e riqueza da microbiota, além de aumento de Lachnospiraceae, Enterobacteriaceae e Ruminococcaceae, e redução de bactérias produtoras de butirato como Roseburia e Faecalibacterium, além de bactérias benéficas consideradas probióticas como Lactobacillus e Bifidobacterium.

Relacionado a modulação da MI nos casos de doença renal crônica,a suplementação com simbióticos (prebióticos associados aos probióticos) mostrou reduzir p -cresol plasmático, mudança favorável no microbioma fecal, melhora dos sintomas gastrointestinais e diminuição da proteína C-reativa após 2 meses de tratamento.

 

Referências

  • Snelson, M., Biruete, A., McFarlane, C., & Campbell, K. (2020). A Renal Clinician’s Guide to the Gut Microbiota. Journal of Renal Nutrition.
  • Yuan-Yuan C, Dan-Qian C, Lin C, Jing-Ru L, Nosratola D. V., Yan G. et al. Microbiome–metabolome reveals the contribution of gut–kidney axis on kidney disease. Journal of Translational Medicine, 2019.
  • Wong J, Piceno YM, DeSantis TZ, Pahl M, Andersen GL, Vaziri ND. Expansion of urease- and uricase-containing, indole- and p-cresol-forming and contraction of short-chain fatty acid-producing intestinal microbiota in ESRD. Am J Nephrol, 2014.
  • Takayama F, Taki K, Niwa T. Bifidobacterium in gastro-resistant seamless capsule reduces serum levels of indoxyl sulfate in patients on hemodialysis. Am J Kidney Dis 41, Suppl 1: S142–S145, 2003.

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