A cirurgia bariátrica é o tratamento de eleição para o obeso grave e suas comorbidades, e seus benefícios incluem, ao lado da perda de peso, redução do risco cardiovascular e melhora do diabetes.¹
O microbioma intestinal de indivíduos obesos é diferente do encontrado em indivíduos com peso normal. No obeso existe maior quantidade de bactérias do filo Firmicutes e baixa diversidade microbiana, alterações estas, que são potencializadas em obesos graves.¹,2,3,4
Os efeitos benéficos da cirurgia bariátrica podem ser atribuídos às mudanças no microbioma intestinal, mas também às alterações no metabolismo de ácidos biliares e regulação do metabolismo central.²
Aron-Wisnewsky e colaboradores investigaram os efeitos de dois tipos de cirurgia bariátrica, banda gástrica e gastroplastia por Y de Roux (GYR), sobre a microbiota intestinal de 24 pacientes obesos graves.
Os pesquisadores observaram que os doentes obesos graves possuem menor diversidade microbiana que indivíduos saudáveis. Após 12 meses da cirurgia, os pacientes submetidos a banda gástrica apresentaram maior diversidade microbiana que aqueles submetidos a GYR, embora os últimos tenham apresentado melhor resposta metabólica.³
De seu lado, Campisciano e colaboradores avaliaram a alteração da microbiota intestinal expressa pela relação Prevotella/Bacteroidetes em indivíduos que realizaram as operações bariátricas de gastroplastia vertical (Sleeve) gástrico e GYR.
Após a realização do Sleeve, esta relação se manteve estável. No entanto, após a cirurgia GYR, houve aumento do filo Prevotella e diminuição do gênero B. uniformis (espécie que, em animais, está associada à disbiose intestinal).²
As alterações no microbioma podem ter resultados distintos dependendo do tipo de cirurgia bariátrica realizada, mas em geral nota-se aumento do filo Bacteroidetes e redução de Firmicutes.4,5
O maior conhecimento das alterações no microbioma intestinal consequentes à cirurgia bariátrica abre caminho para outros tipos de tratamento que poderiam potencializar os efeitos benéficos do procedimento, como indicação de dietas especiais, uso de prebióticos e probióticos e transplante fecal3,4, com o objetivo de melhorar a resposta metabólica e perda de peso dos pacientes.
Referências:
- CANI, Patrice D. Severe obesity and gut microbiota: does bariatric surgery really reset the system?. Gut, [s.l.], p.1-2, 10 jul. 2018. BMJ. http://dx.doi.org/10.1136/gutjnl-2018-316815.
- CAMPISCIANO, G. et al. Gut microbiota characterisation in obese patients before and after bariatric surgery. Beneficial Microbes, [s.l.], v. 9, n. 3, p.367-373, 25 abr. 2018. Wageningen Academic Publishers. http://dx.doi.org/10.3920/bm2017.0152.
- ARON-WISNEWSKY, Judith et al. Major microbiota dysbiosis in severe obesity: fate after bariatric surgery. Gut, [s.l.], p.1-13, 13 jun. 2018. BMJ. http://dx.doi.org/10.1136/gutjnl-2018-316103.
- PEAT, Christine M. et al. The Intestinal Microbiome in Bariatric Surgery Patients. European Eating Disorders Review, [s.l.], v. 23, n. 6, p.496-503, 1 out. 2015. Wiley. http://dx.doi.org/10.1002/erv.2400.
- CASTANER, Olga et al. The Gut Microbiome Profile in Obesity: A Systematic Review. International Journal Of Endocrinology, [s.l.], v. 2018, p.1-9, 2018. Hindawi Limited. http://dx.doi.org/10.1155/2018/4095789.