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Modulação do microbioma: o tratamento do Câncer do futuro?

A relação entre microbioma e câncer é complexa, multifatorial e, provavelmente, bidirecional: alterações na microbiota podem acontecer como consequência da doença, mas também podem contribuir para a progressão do tumor. Modificações na microbiota oral, brônquica, intestinal e vaginal são observadas nos carcinomas de cabeça e pescoço, pulmão, colorretal e cervical, respectivamente. 1

Existem efeitos antitumorais associados com a “boa” colonização do microbioma intestinal.2,3 Isso porque, quadros de disbiose podem promover carcinogênese, por estarem associados à falha da barreira intestinal, e consequente aumento de translocação bacteriana, inflamação, e ação de toxinas intestinais, como os lipopolissacarídeos. A transferência dessas toxinas intestinais através da veia porta está associada ao desenvolvimento do câncer de Fígado.¹,2

Em contrapartida, eubiose pode exercer efeito de inativação de carcinógenos, ao garantir adequada produção de ácidos graxos de cadeia curta como o butirato, e promover ativação biológica de fitoquímicos que previnem o câncer.2

Existe, portanto, a possibilidade de utilizar o microbioma como estratégia de prevenção do câncer e, até mesmo, de redução/controle dos efeitos colaterais associados ao tratamento antineoplásico.4 A modulação do microbioma pode ser realizada pela utilização de prebioticos, probióticos, e de antibióticos específicos que atacam as bactérias produtoras de toxinas intestinais; pela adoção de estratégias nutricionais específicas; e pela realização de transplante fecal.1,5

Tan e colaboradores, em estudo aleatório, duplo-cego, controlado por placebo, testaram a eficácia da administração pré-cirúrgica de complexo probiótico em pacientes com câncer colorretal. O uso do probiótico foi associado ao retorno mais rápido da função intestinal e menor tempo de internação hospitalar.6

Tendo em vista a associação entre microbioma e câncer, torna-se relevante sequenciar geneticamente a microbiota de pacientes oncológicos com objetivo de avaliar e corrigir quadros de disbiose e, considerando os avanços científicos, possibilitar, em breve, novas intervenções anticâncer.

Por: Natalia Lopes

 

Referências

  1. ZITVOGEL, Laurence et al. Anticancer effects of the microbiome and its products. Nature Reviews Microbiology, [s.l.], v. 15, n. 8, p.465-478, 22 maio 2017. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1038/nrmicro.2017.44.
  2. SCHWABE, Robert F.; JOBIN, Christian. The microbiome and cancer. Nature Reviews Cancer, [s.l.], v. 13, n. 11, p.800-812, 17 out. 2013. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1038/nrc3610.
  3. CANI, Patrice D. Human gut microbiome: hopes, threats and promises. Gut, [s.l.], p.1-10, 22 jun. 2018. BMJ. http://dx.doi.org/10.1136/gutjnl-2018-316723.
  4. ROY, Soumen; TRINCHIERI, Giorgio. Microbiota: a key orchestrator of cancer therapy. Nature Reviews Cancer, [s.l.], v. 17, n. 5, p.271-285, 17 mar. 2017. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1038/nrc.2017.13.PAUL, Bidisha et al. Influences of diet and the gut microbiome on epigenetic modulation in cancer and other diseases. Clinical Epigenetics, [s.l.], v. 7, n. 1, p.1-11, 16 out. 2015. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1186/s13148-015-0144-7.
  5. TAN, Chun Khui et al. Pre-surgical Administration of Microbial Cell Preparation in Colorectal Cancer Patients: A Randomized Controlled Trial. World Journal Of Surgery, [s.l.], v. 40, n. 8, p.1985-1992, 20 abr. 2016. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1007/s00268-016-3499-9.

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