Adoçantes artificiais estão entre os aditivos alimentares mais consumidos do mundo. Ao proporcionar sabor doce, isento ou de baixa caloria, são aliados importantes no tratamento dietético do diabetes e de indivíduos que desejam restringir consumo calórico 1,2.
Ao longo dos anos, contudo, surgiram dúvidas sobre a segurança do uso regular dessas substâncias. Estudos clínicos observaram prejuízo de respostas glicêmicas, risco aumentado de doenças metabólicas e favorecimento do ganho de peso 3,4.
Davis et al (2018), encontrou associação entre o alto consumo de bebidas dietéticas de baixa caloria, ao longo de 12 meses, com pior controle glicêmico e aumento de HbA1c em adolescentes com sobrepeso 3. Na metanálise de Azab et al., com 1.003 participantes, houve associação entre consumo diário de aspartame e estévia, com aumento, a longo prazo, do índice de massa corporal, circunferência abdominal e maior risco de síndrome metabólica e diabetes tipo 2, comparado ao grupo que não fez uso de edulcorantes 4.
Novas evidências sugerem que a intolerância à glicose, induzida por adoçantes, é mediada por alterações na composição e funcionamento da microbiota intestinal. É possível que substitutos da sacarose interfiram na diversidade de bactérias comensais e favoreçam a formação de disbiose intestinal 1,2.
Para comprovar essa hipótese, animais de laboratório receberam bebidas acrescidas de sacarina, sucralose e aspartame, na dose ajustada de 5mg/Kg. Após 5 semanas, houve aumento significativo da intolerância à glicose em todos os grupos que receberam adoçantes. Posteriormente, foi realizado transplante fecal, que transferiu a configuração microbiana de camundongos que receberam adoçantes para animais controles (germ free).
Seis dias após o transplante, animais que receberam sacarina replicaram tolerância à glicose diminuída. Em comparação com todos os grupos, a microbiota de animais que receberam sacarina apresentou disbiose considerável, com aumento de mais de 40 unidades taxonômicas operacionais. Foi encontrado maior proliferação de espécies patogênicas Staphylococcus aureus, Providencia rettgeri, Bacteroides vulgatus, Bacteroides fragilis, Parabacteroides distasonis 2.
Tomados em conjunto, esses achados alertam sobre os riscos relacionados ao consumo exponencial de adoçantes artificiais na dieta moderna, o que acontece particularmente pelo consumo ilimitado de bebidas e produtos alimentícios enriquecidos de adoçantes.
Estudos clínicos intervencionistas, para avaliar relação de adoçantes no aumento do risco metabólico em pessoas saudáveis são necessários.
Hoje, a conduta dietética deve respeitar a dose diária recomendada para uso de aditivos alimentares. No Brasil, a segurança do consumo de adoçantes é avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que considera o uso seguro, porém limitado, de edulcorantes derivados da sacarina, ciclamato, steviosídio, aspartame, sucralose e acessulfame de potássio (Ace-K) 5.
Por: Priscila Garla
Referências:
- Suez J, Korem T, Zilberman-Schapira G, et al. Non-caloric artificial sweeteners and the microbiome: findings and challenges. Gut Microbes. 2015;6(2):149-55.
- Suez J, Korem T, Zeevi D, Zilberman-Schapira G, et al. Artificial sweetenersinduce glucose intolerance by altering the gut microbiota. 2014; 9;514(7521):181-6.
- Davis JN, Asigbee FM, Markowitz AK, et al. Consumption of artificialsweetened beverages associated with adiposity and increasing HbA1cin Hispanic youth. Clin Obes. 2018; 8(4):236-243.
- Azad MB, Abou-Setta AM, Chauhan BF, Rabbani R, Lys J, Copstein L, et al. Nonnutritive sweeteners and cardiometabolic health: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials and prospective cohort studies. CMAJ. 2017; 189(28): E929–E939.
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA. Adoçantes – Ingestão Diária Aceitável.