Bactérias que influenciam na balança

Se existe uma relação cada vez mais investigada pela ciência é a do microbioma intestinal com o sobrepeso e a obesidade. Na verdade, as bactérias que habitam o intestino estão relacionadas à maioria dos nossos processos metabólicos e vários trabalhos enfocam o seu papel no aproveitamento dos nutrientes provenientes da alimentação, assim como no gasto de calorias. São funções que, no final das contas, mexem nos ponteiros da balança.

Relação entre o microbioma intestinal com o sobrepeso e obesidade é um dos temas mais investigado pela ciência na atualidadeExistem bactérias mais presentes no corpo de indivíduos com tendência a engordar ou que já estão acima do peso ideal. Outras, porém, são mais encontradas no intestino de pessoas magras e com maior facilidade para se manter em forma.

E é esse assunto de peso, em uma sociedade cada vez mais às voltas com o problema da obesidade, que vamos abordar aqui.

Ratos magros, ratos gordos

Hoje, a Universidade de Washington, em Saint Louis, Estados Unidos, conta com um departamento inteiro só para estudar como o microbioma do intestino está envolvido com a obesidade. Claro, diversas outras instituições do mundo têm a mesma linha de pesquisa, mas foi lá, em 2011, que se observou pela primeira vez um fenômeno curioso.

Em resumo, os cientistas, liderados por Jeffrey Gordon — considerado o maior especialista em microbioma do mundo — notaram que ratos criados em laboratório, em um ambiente totalmente estéril e sem que tivessem qualquer bactéria no intestino, mantinham-se magros. Essa elegância toda era conservada mesmo quando recebiam uma ração extremamente calórica que, em condições normais, os faria engordar pra valer.

Mas não pense que essa condição foi muito saudável — e nem poderia ser, já que as bactérias intestinais exercem funções importantes. Na realidade, a hipótese dos cientistas americanos foi de que, sem o microbioma intestinal, os ratinhos simplesmente não absorviam as calorias direito. Logo, na prática seu organismo recebia menos calorias da alimentação.

Daí que essas cobaias magras, que continuaram a seguir exatamente a mesma dieta hipercalórica, começaram a ganhar peso quando os pesquisadores lhes inocularam bactérias presentes no intestino de ratos obesos. E como ganharam! A balança acusou um aumento de 60% de massa corporal em apenas 14 dias de experiência e mesmo com os ratinhos comendo porções menores de alimento.

Conclusão dos estudiosos: o microbioma do intestino faz toda a diferença na quantidade de energia que um organismo é capaz de absorver de uma mesmíssima dieta. E, portanto, pode explicar por que duas pessoas, diante de uma mesma refeição, são capazes de ter reações muito diferentes, uma engordando mais do que a outra.

Tipinhos da magreza e tipinhos do excesso de gordura

O mesmo grupo da Universidade de Washington, na sequência, descobriu que a comunidade de bactérias existente no intestino de um rato gordo tem um perfil diverso daquela que vive em um rato magro.

O intestino dos camundongos obesos tinha uma maior quantidade de bactérias do grupo das Firmicutes e um número bem menor de bactérias Bacteroidetes. O achado vale para seres humanos: as Firmicutes proliferam no intestino de indivíduos obesos e formam neles uma superpopulação, incomparavelmente maior do que a encontrada no intestino de pessoas com o peso normal.

Hoje já não faltam evidências científicas: a proporção entre esses dois grupos de bactérias tem uma correlação clara com o IMC, o índice de massa corporal. Quanto mais Bacteroidetes, por exemplo menor o IMC.

Além da questão de absorver mais ou menos nutrientes

No que diz respeito ao controle de peso, diversos mecanismos estão envolvidos nessa história — e não apenas o de aproveitar mais ou menos os nutrientes da refeição.

As bactérias do intestino interferem, ainda, na síntese dos hormônios grelina e leptina, que têm a ver com a fome e a sensação de saciedade, respectivamente. A composição do microbioma pode até mesmo influenciar na permeabilidade da parede intestinal para certas substâncias. Por exemplo, pode facilitar a entrada do triptofano na corrente sanguínea e esse aminoácido, por sua vez, serve de matéria-prima para cérebro produzir a serotonina, neurotransmissor que gera a sensação de bem-estar.

Quando esse mecanismo é exacerbado — pelo consumo excessivo de guloseimas que, por sua vez, alteram o microbioma —, costumam surgir episódios de compulsão alimentar.Trabalhos também apontam que o microbioma intestinal é capaz de moldar, inclusive, o gosto por certos tipos de alimento, como a tendência a não resistir a um doce.

Seu microbioma é o que você come

Outro fato comprovado é que a qualidade das refeições afeta diretamente a biodiversidade do nosso intestino. Uma pessoa terá maior proporção de bactérias de determinado tipo quanto maior for a oferta no cardápio de seus nutrientes favoritos.

A boa notícia para os pacientes e para os profissionais de saúde é que esse ambiente se transforma com relativa rapidez. Estudos afirmam que, após apenas três dias de ajustes na dieta, os testes de rastreamento genético  usados para revelar o microbioma de uma pessoa —  como o que  a Bioma4me traz com pioneirismo para o Brasil —  já seriam capazes de acusar diferenças na bioversidade. Diferenças que se tornam ainda mais expressivas depois de um período de reeducação alimentar, recomendado pelo especialista que acompanha o paciente.

As fibras estão entre os ingredientes do cardápio que mais promovem mudanças na população daquelas bactérias que favorecem a boa forma. Esses micróbios são adoradores de grãos integrais e verduras, por exemplo. Mas sobre as fibras e o impacto positivo que elas podem ter nas bactérias do intestino— impacto visível no resultado do teste de rastreamento do microbioma — iremos falar em outras ocasião.

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