O corpo humano é colonizado por trilhões de microrganismos que incluem espécies distintas de bactérias, fungos, vírus e protozoários. Juntos, esses microrganismos e seus genes, constituem uma comunidade microbiana dinâmica que habitam diferentes áreas do organismo e desempenham papel vital na saúde, doença, crescimento e desenvolvimento do seu hospedeiro. Essa condição é chamada de microbioma humano (1).
Nosso primeiro contato com microrganismos ocorre logo no início da vida, e ao longo dos anos somos progressivamente expostos a diferentes quantidades, espécies e gêneros microbianos (2). Assim como impressões digitais, não há microbiomas que sejam idênticos entre si, isto porque além da herança genética, nosso microbioma é moldado por fatores externos. Dieta, estilo de vida, fatores ambientais e comportamentais interferem diretamente na estrutura, diversidade e estabilidade da população de microrganismos residente em nosso corpo (3).
O desequilíbrio simbiótico da relação hospedeiro-microbioma reflete no prejuízo da resposta imunológica e pode atuar com um gatilho indutor no desenvolvimento e progressão de doenças metabólicas, inflamatórias, autoimunes e do câncer (4),(5). Com o intuito de conhecer o impacto clínico desses microrganismos no binômio saúde-doença, o uso de técnicas de biologia molecular e testes genéticos analíticos como a metabolômica, que analisa o sequenciamento do DNA microbiano, tem possibilitado conhecer o perfil estrutural, quantitativo e comportamental do microbioma humano frente a condições fisiológicas e patológicas.
Pesquisas científicas estão sendo desenvolvidas com o intuito de identificar variações temporárias da população microbiana durante o curso de uma doença e, no futuro utilizar marcadores microbianos de referência para risco, progressão e prognóstico patológico (1),(5). Adicionalmente, cientistas visam nortear estratégias profiláticas e terapêuticas na promoção da saúde. O Projeto Microbioma Humano, criado em 2008, tem papel de destaque nessa jornada. Em conjunto com instituições internacionais de pesquisa, realizam o mapeamento genético das espécies de bactérias, vírus e fungos que habitam o nosso corpo. Dados publicados até o momento, reportaram que mais de 5.177 perfis microbianos e seus genes já foram analisados, e mais de 800 espécies microbiológicas humanas foram extraídas para estudo exploratório (1).
Perspectivas futuras almejam que a análise individual do perfil microbiano faça parte de uma medicina especializada, através da aplicação precoce de estratégias terapêuticas personalizados na promoção de saúde e prevenção da instalação de doenças. (1),(5).
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Human Microbiome Project Consortium. A framework for human microbiome research. 2012; 13:486 (7402):215-21.
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Chong CYL, Bloomfield FH, O’Sullivan JM. Factors Affecting Gastrointestinal Microbiome Development in Neonates. 2018; 28:10(3).
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Sunil Thomas, Jacques Izard, Emily Walsh, et al. The Host MicrobiomeRegulates and Maintains Human Health: A Primer and Perspective for Non-Microbiologists. Cancer Res, 2017; 15, 77(8): 1783–1812.
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Armstrong H, Bording-Jorgensen M, Dijk S, Wine E. The Complex Interplay between Chronic Inflammation, the Microbiome, and Cancer: Understanding Disease Progression and What We Can Do to Prevent It. Cancers (Basel). 2018, 20;10(3).