A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é caracterizada pelo acúmulo excessivo de triglicérides no fígado. Atualmente, é a forma mais comum entre as doenças hepáticas crônicas, com incidência global em torno de 20 a 30% da população adulta 1.
Sua patogênese é complexa, multifatorial e influenciada pela suscetibilidade genética, dieta e estilo de vida. Indivíduos obesos, portadores de diabetes tipo 2 e síndrome metabólica representam grupos de alto risco para a doença. Esteato-hepatite não alcoólica ou NASH (do inglês nonalcoholic steatohepatitis), fibrose e cirrose hepáticas representam estágios evolutivos da DHGNA 1.
A disbiose e o supercrescimento bacteriano no intestino (SIBO) são observados nas doenças hepáticas do tipo alcoólicas e não alcoólicas 1-5. Espécies potencialmente patogênicas como Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e Bacteroides têm sido reportadas como predominantes no microbioma gastrintestinal de adultos com DHGNA 2-4.
Em pacientes com fibrose avançada, estágios 3 e 4, a análise metagenômica do microbioma intestinal encontrou associação de espécies E. coli e Bacteroides vulgatus com a gravidade da doença hepática 4. Chama a atenção, que o enriquecimento intestinal por E.coli também tem sido observado em crianças obesas com NASH 5.
A comunicação entre intestino e fígado é bidirecional. SIBO parece influenciar síntese de sais biliares pela via do receptor de farsenoide X (FXR) e diminuir níveis plasmáticos de fosfatidilcolina, ambas respostas que favorecem o acúmulo de triglicérides no fígado 5.
Ao mesmo tempo, o supercrescimento bacteriano pode causar prejuízos à integridade da barreira intestinal. Uma vez comprometida, bactérias e seus metabólitos, como os PAMPs (Padrões Moleculares Associados a Patógenos), podem ser translocados para o fígado, através do sistema portal, e causar inflamação, lesão hepática e acelerar a evolução da doença 5.
Hoje, tratamentos farmacológicos permanecem com eficácia limitada na DHGNA, o que coloca modificações no estilo de vida e dieta como prioridades terapêuticas. Nesse contexto, se destaca o uso de probióticos, que é conhecido por prevenir a multiplicação de bactérias indesejáveis, disbiose e SIBO.
Na DHGNA, estudo duplo-cego randomizado encontrou que a suplementação mista contendo 7 cepas probióticas, dos gêneros Lactobacilos spp., Bifidobactérias spp., e Estreptococos spp., por 3 meses, resultou na diminuição significativa da resistência à insulina, níveis de glicemia, e de marcadores de atividade pró-inflamatória (fator de necrose tumoral alfa [TNF-α] e interleucina 6 [IL-6] comparado ao grupo placebo.
Os autores sugerem que probióticos podem ser usados, futuramente, como terapia complementar para prevenir evolução da DHGNA 6.
Por: Priscila Garla
Referências:
- Wong VW, Adams LA, de Lédinghen V, Wong GL, Sookoian S. Noninvasive biomarkers in NAFLD and NASH – current progress and future promise. Nat Rev Gastroenterol Hepatol.2018; 15(8):461-478.
- Kapil, S. et al. Small intestinal bacterial overgrowth and toll-like receptor signaling in patients with non-alcoholic fatty liver disease. Gastroenterol. Hepatology, 2016; 31, 213–221.
- Boursier, J. et al. The severity of nonalcoholic fatty liver disease is associated with gut dysbiosis and shift in the metabolic function of the gut microbiota. Hepatology, 2016; 63, 764–775.
- Loomba, R. et al. Gut microbiome- based metagenomic signature for non- invasive detection of advanced fibrosis in human nonalcoholic fatty liver disease. Cell Metab. 2017; 25, 1054–1062.
- Tripathi A, Debelius J, Brenner DA, et al. The gut-liveraxis and the intersection with the microbiome. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2018; 15(7):397-411
- Sepideh A, Karim P, Hossein A, et al. Effects of Multistrain Probiotic Supplementation on Glycemic and Inflammatory Indices in Patients with NonalcoholicFatty Liver Disease: A Double-Blind Randomized Clinical Trial. J Am Coll Nutr. 2016; 35(6):500-505.
Prezados,
Adorei o conteúdo trazido para informação sobre tal patologia tão comum em nossos consultórios.
Att.
Grata
Sandra Regina Brandão.