FOS E MICROBIOTA INTESTINAL

FOS E MICROBIOTA INTESTINAL

Modular, com fibras prebióticas, a microbiota intestinal para promover saúde e prevenir doenças é uma das estratégias dietéticas para estimular crescimento e/ou atividade de bactérias simbiontes¹.

Prebióticos são fibras não digeríveis no intestino delgado, fermentados no cólon principalmente por Bifidobactérias e Lactobacillus e metabolizados em ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), L-lactato e moléculas bioativas benéficas para a saúde humana². Frutooligossacarídeos (FOS) são um grupo de prebióticos consumidos desde o nascimento, via leite materno e fórmulas infantis³, e de contínuo consumo em todas as fases da vida. Probióticos estão presentes em  frutas e vegetais, trigo, alho, aspargos, chicória, ou adquiridos por suplementação isolada ou combinada⁴.

Na fase inicial da vida, o consumo de FOS promove benefícios que irão repercutir durante a fase adulta. O leite materno, fonte natural de FOS, atua como protetor contra infecções gastrointestinais e protege contra infecções por rotavírus⁵. O uso de fórmulas enriquecidas com FOS também confere efeitos protetores contra alergia, em especial eczema e rinoconjuntivite⁶.

Na vida adulta, a degradação de FOS estimula o crescimento de Lactobacillus e Bifidobactérias que podem reduzir inflamação da mucosa no trato gastrointestinal, ao aumentar a produção endógena de peptídeo-2 semelhante ao glucagon (GLP-2), melhorar a permeabilidade da barreira intestinal e reduzir os níveis de LPS plasmático (endotoxina inflamatória derivada de bactérias)⁷.

Indivíduos portadores de doenças inflamatórias e autoimunes também podem se beneficiar do consumo de FOS. Em pacientes acometidos por doença de crohn, o aumento de bifidobactérias, decorrente da ingestão de FOS, induziu ao aumento de células dendríticas imunorreguladoras e reduziu a atividade da doença⁸. O aumento de produção AGCC pela fermentação de FOS pode adicionalmente diminuir o pH no cólon, reduzir a proliferação celular e retardar o processo de carcinogênese⁵. Em ensaio clínico randomizado envolvendo 140 pacientes em perioperatório para tratamento de câncer colorretal a ingestão de FOS promoveu melhora dos indicadores imunológicos séricos⁹.

A suplementação FOS também atua favoravelmente na manutenção da densidade óssea, pelo estímulo da absorção de magnésio e cálcio. O aumento da biodisponibilidade destes minerais é resultado da produção de AGCC, que reduzem o pH luminal, e aumentam a solubilidade e absorção dos minerais. Em adultos, doses de FOS superior a 8 g/dia são capazes de promover maior absorção e retenção de cálcio. Em idosos, embora não exista dose ideal de recomendação, estudos associaram o consumo de FOS à prevenção da sarcopenia e melhora significativa de fenótipos típicos de fragilidade¹⁰.

Assim, são evidentes os benefícios do consumo de FOS para modular a microbiota intestinal. Entretanto, semelhante ao que acontece com a ingestão de outros compostos alimentares, o consumo moderado deve ser recomendado, dado que se desconhece a dose ideal para cada condição de doença e manutenção da eubiose. Neste contexto, o sequenciamento da microbiota intestinal é de importância para orientar com propriedade as intervenções dietéticas individualizadas.

Referências:

  1. Dore, J.; Blottiere, H. The influence of diet on the gut microbiota and its consequences for health. Curr. Opin. Biotechnol. 2015, 32, 195− 199.
  2. Slavin J. Fiber and prebiotics: mechanisms and health benefits. Nutrients. 2013 Apr 22;5(4):1417-1435.
  3. F Liu, Li Pan, Chen M, Luo Y, Prabhakar M, Zheng H et al. Fructooligosaccharide (FOS) and Galactooligosaccharide (GOS) Increase Bifidobacterium but Reduce Butyrate Producing Bacteria with Adverse Glycemic Metabolism in healthy young Population. Scientific Reports. 2017; 7: 11789.
  4. La Fata G, Rastall RA, Lacroix C, Harmsen HJM, Mohajeri MH, Weber P, et al. Recent Development of Prebiotic Research-Statement from an Expert Workshop. Nutrients. 2017 Dec 20;9(12).
  5. Carlson JL, Erickson JM, Lloyd BB, Slavin JL. Health Effects and Sources of Prebiotic Dietary Fiber. Curr Dev Nutr. 2018; 29;2(3): 005.
  6. Kosuwon P, Lao-Araya M, Uthaisangsook S, Lay C, Bindels J, Knol J, Chatchatee P. A synbiotic mixture of scGOS/lcFOS and Bifidobacterium breve M-16V increases faecal Bifidobacterium in healthy young children. Benef Microbes. 2018 Jun 15;9(4):541-552.
  7. Cani PD, Possemiers S, Van de Wiele T, Guiot Y, Everard A, Rottier O, Geurts L, Naslain D, Neyrinck A, Lambert DM., et al.Changes in gut microbiota control inflammation in obese mice through a mechanism involving GLP-2-driven improvement of gut permeability. Gut 2009;58(8):1091–103.
  8. Joossens M, Huys G, Cnockaert M, De Preter V, Verbeke K, Rutgeerts P, Vandamme P, Vermeire S. Dysbiosis of the faecal microbiota in patients with Crohn’s disease and their unaffected relatives. Gut 2011;60(5):631–7.
  9. Xie X, He Y, Li H, Yu D, Na L, Sun T, Zhang D, Shi X, Xia Y, Jiang T, Rong S, Yang S, Ma X, Xu G. Effects of prebiotics on immunologic indicators and intestinal microbiota structure in perioperative colorectal cancer patients. Nutrition. 2019 May; 61:132-142.
  10. Buigues C1, Fernández-Garrido J2, Pruimboom L3,4, Hoogland AJ5, Navarro-Martínez R6, Martínez-Martínez M7, Verdejo Y8, Mascarós MC9, Peris C10, Cauli O11 Effect of a Prebiotic Formulation on Frailty Syndrome: A Randomized, Double-Blind Clinical Trial Int. J. Mol. Sci. 2016, 17, 932.

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