Elas estão presentes nas frutas, nas hortaliças e nos cereais. Também passaram a ser adicionadas pela indústria a diversos produtos e compõem uma série de suplementos, porque são cada vez mais consideradas ingredientes fundamentais para a saúde.
E, se antes as pessoas apenas falavam que as fibras ajudariam a combater a prisão de ventre ou a arrastar para fora, por meio das fezes, o excesso de colesterol — o que já não seria pouca coisa — , hoje se sabe que elas fazem muito mais.
Seu consumo regular combate insônia, doenças pulmonares, diabetes, excesso de peso, câncer (e não só o do intestino) e hipertensão, entre muitos outros males. E talvez seja o caso de se perguntar: como substâncias que, na digestão, não são absorvidas pelo nosso organismo poderiam fazer tudo isso? Ao que tudo indica, a chave dessa reposta pode estar com as bactérias do intestino.
O microbioma e o sono
Foi há dois anos, na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, que veio à tona essa relação intrigante: os cientistas convidaram 26 voluntários para passar cinco noites no Laboratório de Fisiologia do Sono. Nos quatro primeiro dias, esses indivíduos seguiram uma dieta, prescrita por nutricionistas do time, recheada de fibras.
No último dia do experimento, porém, as fibras saíram do cardápio, que ficou lotado de açúcares e carboidratos. E então todos demoraram bem mais para adormecer. Não só isso: durante o sono, os participantes permaneceram menos tempo nas fases de repouso que seriam as mais restauradoras.
Nem pense em barriga pesada para explicar a situação, até porque os cientistas tiveram o cuidado de oferecer as refeições com antecedência suficiente em relação ao horário em que todos iam para a cama do laboratório.
A hipótese na conclusão da investigação é de que certas espécies bactérias intestinais que se alimentam de fibras induziriam a produção de neurotransmissores capazes de levar à vontade de dormir. Ainda falaremos muito sobre o tema, porque não faltam evidências de que o microbioma afeta essas substâncias que são verdadeiros mensageiros cerebrais.
Do intestino para os pulmões
Já na Universidade de Nebraska, também nos Estados Unidos, o achado foi o seguinte: os pesquisadores avaliaram a saúde pulmonar e o consumo de fibras de 1 921 pessoas entre 40 e 79 anos. Segundo a nutricionista Corrine Hanson, líder do trabalho, aqueles com consumo elevado de fibras na dieta tinham uma função pulmonar melhor em comparação com os indivíduos que caprichavam mais nas gorduras e nos açúcares no prato.
Para você ter ideia: só 14,8 % dos que seguiam uma dieta com maior presença de vegetais e cereais tinham algum problema nas vias aéreas, contra 29,8% dos que não tinham o hábito de comer muitas fibras. Os cientistas afirmam que uma das razões para essa diferença seria o fato de as fibras estimularem o crescimento de bactérias intestinais capazes de produzir substâncias com efeito antiinflamatório. E elas agiriam no sentido de proteger os pulmões.
Na realidade, esse trabalho é só um exemplo. Há uma série de outros mostrando como o microbioma tem uma relação quase íntima com os processos inflamatórios — e, claro, não só no que diz respeito à saúde pulmonar.
Bactérias, fibras e câncer de mama
Em um levantamento com mais de 90 mil mulheres americanas, estudiosos da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, constataram: os tumores de mama eram bem menos incidentes entre as que consumiam fibras com regularidade. E, de novo, os autores apontam para… Adivinhe!
Sim, provavelmente o elo perdido é o microbioma. No Imperial College de Londres, na Inglaterra, os cientistas foram além e descobriram que um microbioma mais equilibrado interfere positivamente no sistema imunológico, tornando determinadas células de defesa mais alertas ao surgimento de anormalidades nas glândulas mamárias. Ou seja, essas células imunológicas, ativadas por bactérias do intestino, poderiam destruir uma célula maligna de mama recém-nascida, por assim dizer. E isso seria cortar o mal do câncer pela raiz.
Preferência alimentar
Os cientistas sabem: coincidência ou não, as bactérias do intestino que têm uma ação mais positiva para a saúde costumam proliferar na presença de fibras. Já aquelas mais associadas a doenças parecem preferir de longe que seus hospedeiros (nós!) consumam mais gorduras e carboidratos simples no dia a dia.
Por isso, toda alteração na dieta produz um impacto nessa briga por espaço no intestino, o que pode ser constatado em exames que fazem o rastreamento genético do microbioma, como o que a Bioma4me traz pioneiramente para o Brasil. Por meio do teste, um profissional de saúde e o próprio paciente podem acompanhar o efeito de mudanças na forma de se alimentar e, eventualmente, planejar mais ajustes .
Diga-se que só 9 em cada 10 brasileiros consomem a quantidade de fibras considerada ideal, de acordo com o Ministério da Saúde. A porção é de, no mínimo, 25 gramas diários, o que o indivíduo alcançaria se comesse perto de 400 gramas de vegetais ao longo de 24 horas.