Efeitos da gordura dietética na microbiota intestinal e sua relação com risco cardiometabólico
A prevalência da obesidade, distúrbios metabólicos e cardiovasculares aumentaram rapidamente nos últimos anos, em decorrência da substituição de uma dieta tradicional com baixo teor de gordura por padrões alimentares com elevado teor de gordura da dieta ocidental. Complementarmente, no campo da microbiota intestinal, a presença da disbiose demonstra associação com Obesidade, Diabetes tipo 2 e Doenças Cardiovasculares.
Em estudos observacionais prévios, o forte impacto que a dieta apresenta na composição da microbiota intestinal e metabolômica fecal foi sugerido. De modo a comprovar esta associação, estudo randomizado controlado realizado com 217 adultos jovens saudáveis recentemente publicado no periódico Gut buscou investigar o efeito de diferentes proporções da ingestão de gordura na composição da microbiota intestinal e expressão de marcadores inflamatórios sanguíneos.
Esta população foi subdividida em três grupos de dietas isocalóricas com percentuais distintos de macronutrientes: dieta com baixo teor de gordura (20% de gordura, 60% de carboidratos), dieta com moderado teor de gordura (30% de gordura, 56% de carboidratos) e dieta com alto teor de gordura (40% de gordura, 46% de carboidratos) e foi acompanhada por 6 meses,. Durante este período foram realizadas coletas sanguínea e fecal, para avaliação do efeito das intervenções alimentares na microbiota intestinal, metabolômica fecal e fatores inflamatórios plasmáticos.
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Como principais achados do estudo, as dietas com percentual moderado e elevado de gordura diminuíram a proporção entre Firmicutes e Bacteroidetes, enquanto dieta com baixo teor de gordura foi associada ao aumento da diversidade α avaliada pelo índice de Shannon (p = 0,03), aumento da abundância de Blautia (p = 0,007) e Faecalibacterium (p = 0,04), espécie produtora do ácido graxo de cadeia curta butirato, associado a muitos benefícios à saúde. Em contrapartida, a dieta com alto teor de gordura foi associada ao aumento Alistipes (p = 0,04), Bacteroides (p <0,001) e redução do gênero Faecalibacterium (p = 0,04). Em consonância com os menores percentuais do gênero Faecalibacterium, a concentração total de ácidos graxos de cadeia curta também foi significativamente menor no grupo que ingeriu com maiores quantidades de gordura em comparação com os outros grupos (p <0,001).
Na análise da metabolômica, os metabolitos p-cresol e indol, conhecidos por seu impacto negativo, favorecendo distúrbios metabólicos, foram reduzidos no grupo de dieta com menor percentual gordura. Além disso, a dieta hiperlipídica foi associada ao enriquecimento fecal de ácidos graxos associados a biossíntese de lipopolissacarídeos (LPS). Neste sentido, a dieta rica em gordura também foi associada ao aumento de marcadores pró-inflamatórios circulantes.
O estudo conclui que dietas com maiores percentuais de gordura ocasionam um impacto notavelmente desfavorável na composição da microbiota intestinal, perfil metabolômico fecal e de marcadores pró-inflamatórios plasmáticos, que podem conferir efeitos adversos e consequências para os resultados de saúde a longo prazo. Em contrapartida a dieta com baixo teor de gordura foi associada a um perfil menos inflamatório e associado a saúde. Esses achados reforçam que as diretrizes nutricionais devem aconselhar um controle mais atento sobre aa ingestão de gorduras na dieta.
Referência: Wan, Y, Wang, F, Yuan, J, Li, J, Jiang, D et al. Effects of dietary fat on gut microbiota and faecal metabolites, and their relationship with cardiometabolic risk factors: a 6-month randomised controlled-feeding trial. Gut, 2019. 317609.